Quando se gosta de escrever, qualquer situação
vivida parece um post. Primeiro ele é montado na cabeça, depois ele é escrito.
Às vezes é mais legal na cabeça porque quando finalmente se alcança um lugar
pra escrever, muitas palavras pensadas já foram esquecidas. Pra mim é assim,
quase tudo é motivo, principalmente quando eu estou com vontade de escrever.
Escrever até que é fácil, difícil é pra quem lê! E pra quem gosta de ler, leia
a primeira parte se quiser, a segunda se puder.
Quando eu saí do serviço na quarta-feira eu queria
tirar uma foto da rua pra fazer um post, mas parar ali, no meio de muitos
Atleticanos entupindo vários bares ao redor do Estádio Independência, conhecido
ultimamente como cemitério do Horto, pois caiu no Horto tá morto, era
impossível. Eles ocupavam rua, calçadas, bares. O bairro estava em preto e
branco! É meu caminho de volta pra casa, eu trabalho perto do estádio, não tem
como não achar legal aquele tanto de gente cheia de alegria esperando pelo jogo
que vai começar 3 horas depois de eu passar por ali.
Eu, que não gosto de futebol, acho legal ver a
torcida do Atlético reunida. Eu sou Atleticana desde os cinco anos quando meu
pai me “pagou uma barra de doce de leite” para mudar de time e atleticana
fiquei, mas sem interesse algum pelo futebol, só fico feliz quando ganha porque
meu filho fica feliz e fico brava quando perde porque meu filho fica triste. E
quando eu quero me divertir visto a camisa!
Eu acho fácil demais torcer por um time que é cheio
de títulos e está sempre nas primeiras posições dos campeonatos, mas vai torcer
por um time que não ganha há uns 13 anos! Não é fácil não! É o gostar mesmo na
derrota! É este o ponto que acho legal na torcida, perdendo ou ganhando a massa
Atleticana continua fiel, e é isso que eu sempre falei pro meu filho, não são
os títulos que fazem o torcedor, é a paixão pela competição, é o reconhecimento
do esforço, da tentativa, são os jogados incríveis, os gols. Tentar, tentar,
tentar, “lutar, lutar, lutar, com toda nossa raça pra vencer, Clube Atlético
Mineiro uma vez até morrer,” não desistir, não mudar de time pela derrota.
O que me faz escrever sobre futebol hoje?
O Chico Pinheiro!
Atleticano fanático falou no Globo.com o que eu digo
sempre: os comentaristas, narradores, assistentes, convidados que participam
das transmissões de jogos do Globo sempre, sempre, sempre arrumam um bom motivo
para os times do eixo Rio/São Paulo perder. O jogador foi expulso, o jogador
não está bem, qualquer motivo é motivo, menos o fato de que um time mineiro
pode jogar bem, tão bem ao ponto de ganhar a partida. Chico Pinheiro disse:
implicam com a gente! Implicam mesmo!
Quando Ronaldinho disse que o primeiro jogo como São
Paulo foi um treino caíram matando! Disseram que ele estava menosprezando o
time paulista, mas foram capazes de dizer que a vitória do Galo se deu porque o
Lúcio foi expulso, só por isso. Não adianta explicar quando não querem entender
ou aceitar.
Durante o jogo no Independência, quando o São Paulo
foi eliminado eu estava na sala junto com o Guta e o Sam, só que enquanto eles
assistiam ao jogo ou assistia a série Grimm e às vezes eu piscava pra TV,
cheguei a ver a bola passar por debaixo das pernas do Rogério Ceni. Fui pro
Facebook só pra rir, só pra irritar quem me irrita exaltando seu time. Tudo
bem, aguenta eu exaltar o meu também!
Se eu me importo se ganha ou perde? Não. Se eu me
preocupo se vai ganhar daqui pra frente? Não.
Eu me importo se for
divertido, depois disso eu nem ligo, tenho coisas mais importantes pra pensar e
pensando nisso eu me aventurei por lugares desconhecidos e vou te contar, que
medo!
Eu não sei se é a idade
que deixa a gente mais covarde, mas eu tive medo, confesso! Confessei inclusive
pra moça que caminhou ao meu lado durante parte do percurso.
Agora mais calma, eu não
sei dizer se ela era realmente mulher, não dá mais pra saber só de conversar
com a pessoa, estou em dúvida, mas era uma negra alta de cabelos pretos
cacheados, óculos escuros e um sorriso lindo.
O caso é que eu fui pro
outro lado da cidade buscar uma prateleira da geladeira que encomendei há um
mês e que quebrou porque o Sam puxa o refrigerante pra frente e não pra cima.
Na verdade o Sam quebrou a prateleira debaixo e não sabe que eu, reclamando
sozinha enquanto lavava a geladeira, quebrei a prateleira de cima porque ela
achou que tinha asas e voou das minhas mãos e por isso eu não contei pra ele
que eu quebrei a outra, porque não fui eu, e foi ele e ele precisa ter mais
cuidado com as coisas e eu tenho que ensinar e não sair quebrando coisas por
ai. Você entendeu!
Lá fui eu toda feliz e
contente, mas o trânsito já estava péssimo antes das 9 h porque já havia uma
manifestação qualquer na frente da Prefeitura que impedia a cidade inteira de
se locomover.
Peguei minha prateleira
e como precisava passar no Shopping Oiapoque e não tinha como chegar lá de
ônibus eu bati a pé mesmo. E que pé!
Eu sabia que ia passar
por um dos lugares mais esquisitos de BH, daqueles que aparecem no jornal da
cidade porque é onde os bandidos vendem mercadorias roubadas e roubam
mercadorias de quem passa por lá pra poder vender.
Andando bem rápido eu
cheguei até a passarela que passa por cima da linha do metrô e mesmo apavorada
tentava fazer cara de: “eu estou bem, só estou levando minha prateleira de
geladeira pra casa”, na primeira rampa que peguei para chegar à escada que eu
tinha que subir, bem debaixo da escada lá estava ele. Só de lembrar eu me sinto
mal, muito mal, mal por tudo. Ele estava lá usando o sanitário, só que não
existia sanitário algum, entende? E era o número dois! E eu tinha que estar
passando bem na hora? Porque este tipo de coisa acontece comigo? Eu devo ter
irritado muito Deus pra viver este tipo de coisa, e irritado todos os deuses
gregos também, assim como todos os deuses romanos, porque pra ter esta visão da
coisa, só tendo irritado o pacote inteiro!
Claro que eu desviei o
olhar e apressei os passos, mas o cheiro parecia caminhar ao meu lado! Subi as
escadas correndo, cheguei à passarela que sempre é motivo de reportagens no
MG/TV onde encontrei a moça que não sei se era mesmo moça e caminhei ao lado
dela batendo papo e tremendo de nojo e de medo e não lembro sequer do que nós
falamos, mas ela foi gentil me acompanhando até o final da passarela e me
indicando onde virar pra chegar mais rápido ao Shopping Oi.
Dois quarteirões, dois
longos quarteirões onde eu caminhava como se fosse uma velha que nunca vai ao
centro comercial da cidade. (Eu sou uma velha que não vai ao centro, eu vou ao
cartório e ele não é no centro).
Todo mundo era muito
feio e todo mundo olhava pra mim e eu tinha medo. Não de que me roubassem, meu
celular estava dentro do sutiã e a bolsa debaixo do braço que eu segurava com a
mão roxa de tanto apertar as alças, eu tinha medo de que eles me roubassem a
prateleira da geladeira! Pensa bem! Um mês esperando a prateleira e alguém me
leva ela embora, é fácil? Dá pra aceitar? Não dá.
Caminhei rapidamente
tentando não esbarrar em ninguém pra não arrumar motivo e foi ai que eu percebi
que eles não estavam me olhando, eles sequer me viam! Eu estava invisível? Não.
Eu só era mais uma ali, como tantas outras pessoas feias, comuns, normais que
estão no centro comercial trabalhando ou comprando, ou mesmo como eu, procurando
assistência técnica para um celular velho que tem rádio e não precisa de
internet pra ele funcionar!
Eu passei sim por áreas
perigosas da cidade, mas eu não era necessariamente um alvo, mas me sentia como
um, talvez pelo fato de ir muito pouco a estes lugares, onde o comércio é mais
barato e por isso mais procurado. Não que eu tenha algum tipo de preconceito,
não é isso, quando eu preciso vou lá, como fui hoje procurando conserto pro
celular, é só que eu vou raramente, procuro sempre resolver meus problemas
dentro do bairro que moro ou trabalho, porque fica mais fácil e prático.
Na passarela eu não
quero mais passar. Não é justo, não é certo, ninguém devia usar áreas públicas
como banheiro. Toda pessoa, não importa de onde, nem como, nem quando, muito
menos porque, tem o direito à dignidade. Os nossos governantes tinham que
abrigar e dar a estas pessoas uma vida mais digna. Não é o fato de ver um
mendigo fazendo suas necessidades na frente de outras pessoas que é revoltante,
é o direito que todo ser humano tem de ter um lugar decente pra viver, se
cuidar, e até fazer suas necessidades e não tem. É essa desigualdade social que
estapeia a sociedade que finge não sentir o calor do tapa. E a gente reclama de
tanta coisa, mas está fazendo número 1 e 2 dentro do banheiro!
E agora? Como deletar a
imagem gravada na cabeça? Não posso nem fechar os olhos!
#comofaz?
Este post já estava
escrito quando cheguei do serviço e liguei a TV no MG/TV e estava lá a
passarela, bem perto de lá faziam uma reportagem sobre usuários de crack que se
concentram ali. Eu disse, não disse? Eu avisei, eu tive medo.
3 comentários:
Eu sou sãopaulina por livre influencia do meu irmão que sofria a cada jogo, e agora pelos filhos que nem se importam tanto, mas ficam sem graça qdo o time perde. Sofri vendo meu time perder pro atlético, eu sabia que o time do atlético estava melhor que o do São Paulo, mas torci, fiz meu papel, já gostei mais de futebol, hoje em dia não acredito muito nos resultados, parece tudo manipulado, não esse jogo, esses foram muito bons e quando o atlético fez o segundo eu só pedia pro tempo passar rápido pro chocolate não ser maior. Fico muito brava com o Ronaldinho que bateu um bolão, mas parece que só joga quando quer. No mais, ano que vem tem mais.
Quanto a andar pela cidade, eu não tenho medo de sair a noite mas tenho medo de ir a certos lugares, esses dias já me avisaram pra evitar de sair de casa pelo indulto de dia das mães, mas nem ligo, dou bobeira.
Também penso nos direitos das pessoas e como chegamos nesse ponto, acho que ta mais que na hora de todo mundo aprender a discutir futebol e politica, sem perder a amizade, com respeito, para ver se começamos a fazer diferente, afinal os políticos trabalham para nós e não o contrario.
Beijão
Ei Sandra! É isso ai, a gente pode discutir, conversar, falar e não brigar!
Quanto mais velha eu fico, mais cagona!
Obrigada por comentar.
É verdade, quando gostamos de escrever temos vontade de transformar tudo em post. Eu passo pelos mesmos processos que você, mas confesso que hoje tenho sofrido de uma falta de vontade enooorme de escrever, até mesmo as resenhas para o blog literário do qual participo não querem sair mais.
Eu também tenho um time do coração, o Santa Cruz do Recife, somos torcedores apaixonados, quer o time ganhe quer perda, nosso time está na terceira divisão e as vezes o público do jogo é maior que os dos times da 1ª. E sim, a Globo através da narração transforma o campeonato brasileiro em uma epopeia da qual os protagonistas são os times do Rio de Janeiro e São Paulo, os outros são só coadjuvantes... Os times de todos os outros estados sofrem com isso... me irrita profundamente.
E quanto a sua aventura em busca da prateleira da geladeira, é bem assim... Não sei porque muitas vezes nós olhamos para a multidão e vemos nela o outro, mas as vezes ela é apenas algo do qual fazemos parte e o outro não é outro é apenas algo como "nós"... Sei lá, terminei o post constrangida com você pela cena degradante... Esse homem está a tanto tempo sendo tratado como animal que já se esqueceu que não é nada menos que humano... Eu queria saber porque é tão fácil esquecer que somos humanos, que eu e outro formamos o nós e todos somos humanos e precisamos e merecemos ser tratados com dignidade.
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