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Dramédia!



Antes de tudo e qualquer coisa, eu quero agradecer aos recados carinhosos que tenho recebido e mesmo não respondendo, podem acreditar, eles penetram fundo no meu coração e me dão forças para continuar. Obrigada!


Alguém se prepara para que as coisas não deem certo? Alguém fica esperando que dê tudo errado, mesmo que isso venha a gerar sofrimento? Alguém enfrenta um problema esperando que não haja solução? Apesar de estar estudando budismo e saber que não se deve gerar expectativas, não há como enfrentar uma sala de operação, uma infecção na cirurgia e ficar bem ao receber a notícia de que não deu certo.
É isso, não deu certo. O acesso para hemodiálise que eles chamam de fístula não deu certo, não funcionou como devia e ainda por cima inflamou. Levei um mês para vencer a infecção, mesmo tendo tomado antibiótico, fui ao hospital umas quatro vezes, fiquei irritada por dias, pois o tempo todo eu sentia ardência, dor, incômodo. Eu vou ter que fazer outra cirurgia, mas meu médico me deu um tempo para me recuperar já que me encontro estável, por isso não vou pensar neste problema agora, vou deixar para depois assim como o Doutor deixou.  Já chorei o que tinha que chorar por não ter dado certo, passou. Agora é aguardar, mas enquanto eu aguardo eu queria escrever aqui sobre uma situação que me incomodou. Eu fiquei sabendo que uma pessoa que me conhece, digamos que fomos criados juntos, disse que eu me faço de vítima com a minha doença, que eu faço drama, então eu acho que preciso desabafar sobre minha vitimização.
Assim:
Você não me viu tomar 6 comprimidos de 20 mg de Prednisona de uma só vez todos os dias durante cinco meses.
Você não estava aqui. Você não me viu inchar 15 quilos em uma semana e mal conseguir andar, não ter como me vestir, não ter o que calçar.
Você não me viu ter dificuldades para caminhar, para dormir, para sentar, para andar, para respirar.
Você não me socorreu quando o meu médico perguntou se era para chamar o Samu ou um taxi quando eu quase entrei em choque por causa de uma desidratação forte e tive que passar o dia no hospital tomando soro e fiquei inútil por 15 dias.
Você não ficou o dia inteiro me vigiando, vigiando a minha febre quando eu tive uma sinusite que me derrubou e me deixou de cama por mais de vinte dias.
Você não viu o quanto eu fiquei assustada quando me internaram para fazer um tratamento e desistiram porque eu estava fraca demais e surgiu nos exames uma infecção urinária que poderia ir para os meus rins já tão abalados.
Você não sentiu meu medo, medo de não conseguir, medo de morrer e deixar minha família aqui. Medo de nunca mais voltar a ser eu mesma. Medo de estar doente. Medo de não saber que doença era e o que ela faria comigo.
Você não sentou comigo e enxugou uma lágrima minha, seja ela de dor, de medo, de pânico, de alívio, de alegria.
Você não veio sentar aqui segurar minha mão e dizer que ia ficar tudo bem, que eu ia melhorar, que você tinha certeza de que eu ia conseguir, que você confiava em mim, que você estava rezando por mim.
Você não viu os olhos assustados dos meus filhos, a insegurança e o medo deles, a dor que eu enxergava neles cada vez que eu piorava.
Você não viu o desespero do meu marido que me abraçava e chorava junto comigo. Não viu ele levantar de madrugada por dias e fazer todo o serviço de casa antes de ir trabalhar, deixar tudo pronto para eu poder ficar só no meu cantinho do sofá, esperando a dor passar.
Você não viu a minha irmã me esperar já pronta na porta antes mesmo de eu pedir para me levar no médico porque eu não estava bem.
Você não viu as duas vezes em que cai e não consegui levantar e tive que gritar meu filho para me recolher do chão.
Você não viu meu médico cuidar de mim, rir quando eu melhorava, mudar o semblante quando eu piorava, me perguntar por whatsapp como eu estava me sentindo naquele dia.
Você não viu quem gosta de mim, quem largou tudo para cuidar de mim.
Você não viu quem ficou do meu lado incondicionalmente.
Você não viu quem me abraçou em todos os momentos mais difíceis.
Tudo que você não viu outras pessoas viram. Tudo que você não fez outras pessoas fizeram.
Você me ligou, me desejou tudo de bom, até me ajudou, mas não estava aqui. Você nunca esteve comigo. Você não viu nem 1/3 do meu sofrimento, da minha dor, do meu desespero.
Você não viu quando eu descobri que tem gente que sofre muito mais do que eu sofri, que diante da dor de outros, a minha foi mínima.
Mas você também não me viu melhorar, ir voltando aos pouquinhos a ser eu mesma.
Você não me viu voltar a sorrir, a andar sozinha, a dirigir. Voltar a ser Marise.
Você não me viu aceitar a minha doença.
Você não sentiu junto comigo e com quem gosta de mim o prazer de ter conseguido superar o tratamento.
Você não comemorou comigo o fato de no momento eu estar estável! Olha que palavra linda! Estável. Até quando? Ninguém sabe. E o que importa não saber? Importa o que a gente sabe.
Eu fui vítima de mim mesma, e até nos meus pensamentos eu deixei o sofrimento entrar. Do mesmo jeito que ele entrou, consegui fazer ele sair. Agora mesmo ainda estando doente, mesmo sabendo que as coisas podem ser difíceis daqui pra frente, eu voltei a ser Marise e o que era drama virou comédia, mas você não viu, não sentiu, não chorou, não riu.
Tudo bem, você não viu, mas se em algum momento da sua vida você passou por algo parecido e eu não vi, foi simplesmente porque você não quis. Você não quis, você preferiu assim, você escolheu assim. Agora assim será e não por sua escolha, mas pela minha.



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1 comentários:

janaina disse...

Tem um ditado que diz, não dê explicações por que teus inimigos ou desafetos não vão acreditar e teus amigos não precisam. Beijos

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